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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Conversa de Botequim

 Em recentes conversas com amigos e conhecidos, durante nossas (rappy hours) na boémia, discutimos a “História Geral”e temas que hoje nos invade constantemente, tal qual o ar que respiramos. A Crise económica, a indiferença social, a pobreza, entre “outros “.

Deparei-me com vários argumentos e conceitos não muito distantes em lógica da situação ao qual nos encontramos hoje. Cada um abordando os assuntos não só com o conhecimento intelectual que possuem, como também com experiências de facto evidenciadas ou   por saber de alguns que vivem em situações de risco, pobreza e “exclusão social.”

A pobreza pode ser entendida em vários sentidos, principalmente:

Carência material; tipicamente envolvendo as necessidades da vida cotidiana como alimentação, vestuário, alojamento e cuidados de saúde. Pobreza neste sentido pode ser entendida como a carência de bens e serviços essenciais. Falta de recursos económicos; nomeadamente a carência de rendimento ou riqueza (não necessariamente apenas em termos monetários). As medições do nível económico são baseadas em níveis de suficiência de recursos ou em "rendimento relativo". A União Europeia, nomeadamente, identifica a pobreza em termos de "distância económica" relativamente a 60% do rendimento mediano da sociedade.

Carência Social; como a exclusão social, a dependência e a incapacidade de participar na sociedade. Isto inclui a educação e a informação. As relações sociais são elementos chave para compreender a pobreza pelas organizações internacionais, as quais consideram o problema da pobreza para lá da economia.

Por esta ótica, a decadência intelectual pode prejudicar o desequilíbrio no mundo? 

Respondo sem titubear que sim, sem dúvidas. E é por essa razão que observamos hoje na paisagem político-social as aberrações e absurdos teóricos, os extremismos, operando a inversão de todos os valores. Vou mais adiante; Excessivamente preocupados com as suas extravagâncias, os senhores da “inteligência” trocaram o labor ético por um lugar de domínio. Valorando prebendas tangíveis da situação econômica.

A exclusão configura-se como um fenômeno multidimensional, como um fenômeno social ou um conjunto de fenômenos sociais interligados que contribuem para a produção do excluído. Coexistem ao nível da exclusão fenômenos sociais diferenciados, tais como o desemprego, a marginalidade, a discriminação, a pobreza, entre outros.
Numa situação de exclusão verifica-se uma acentuada privação de recursos materiais e sociais arrastando para fora ou para a periferia da sociedade todos aqueles que não participam dos valores e das representações sociais dominantes.

O excluído encontra-se fora dos universos materiais e simbólicos sofrendo a ação de um espiral crescente que culminará na incorporação de um sentimento de auto - exclusão.

A nível simbólico tende a ser excluído todo aquele que é rejeitado de um certo “universo” simbólico de representações de um concreto mundo de trocas e transações sociais.

Nas sociedades modernas ocidentais, contudo, pobreza e exclusão reforçam-se mutuamente.

Há diversos indicadores de desigualdade como, por exemplo, o coeficiente de Gini. (é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini)

Em muitos países a definição oficial de pobreza é baseada no rendimento relativo e por essa razão alguns críticos argumentam que as estatísticas medem mais a desigualdade do que as carências materiais. Por exemplo, de acordo com o Gabinete de Censos dos EUA, 46% dos "pobres" desse país têm casa própria, tendo as casas dos pobres, em média, 3 quartos de dormir, 1,5 casa de banho e garagem. Além disso, as estatísticas são normalmente baseadas no rendimento anual das pessoas sem considerar a sua riqueza. Os limiares de pobreza usadas pela OCDE e pela União Europeia baseiam-se na distância econômica relativamente a uma determinada percentagem do nível mediano de consumo.

No entanto, definir pobreza torna-se um processo um pouco
complicado. “Se a pobreza se manifesta ao nível de determinadas condições
materiais de existência, caracterizadas por baixo nível de rendimentos,
condições habitacionais, precárias em áreas periféricas, frequentemente degradadas, ela está igualmente associada a um determinado modo de estar na vida, a uma forma particular de percepcionar a realidade.”


Porém, a conversa fluí e entre uma taça fresca aqui e outra “acolá”, uma matéria chama a atenção no noticiário e uma a mais, declaração dos Srs. “Doutores.” (risos) percebo que as contradições continuam e o cenário global da situação aterroriza.

Li um texto pela manhã no JN que 96% da população portuguesa, considera que a situação econômica do pais está mal e quase três em cada quatro (71%) acreditam que vai piorar, segundo um Eurobarómetro divulgado ontem em Bruxelas.
Como medir, calcular este coeficiente? Esta sondagem foi realizada em Junho - antes do anúncio das novas medidas de austeridade. A média europeia (UE 27 ) e de 67% de descontentes com a situação nacional, contra 3% de insatisfeitos.
Uma “investigação” do INE divulgada em noticiário, revelou que em cada 05(cinco) dos portugueses um(01) é pobre. Pergunto: Onde fora realizado este estudo?
Quais os critérios e questões abordados neste? Quem avalia e como caracteriza as respostas destes “ cidadãos “? Por isso minhas perguntas. Pois cá na Póvoa de Varzim e em Vila do Conde desconhecemos tal sondagem, como também perguntado ao mais novo membro deste colegiado, morando atualmente em Braga, se o mesmo soube de tal, nem mesmo ouviu falar. Durante a conversa isso foi unânime, pois os presentes conhecem de fato famílias com 05 ou mais cidadãos portugueses que são “pobres “. (observem a incongruência de ontem para hoje das informações em rede) . Com mais “informações” adicionais, qual indicativo usar?


Ainda durante o dia o Sr. José Gomes Ferreira economista e comentarista da SIC nos revelou mais alguns dados interessantes sobre o plano econômico do tipo. Que para além da austeridade ainda vamos pedir dinheiro ao exterior novamente, os portugueses viveram a ilusão de que eram ricos. Ou seja; estas mais pobres e vai ficar ainda mais. Isso era tema de conversas em nossos encontros como os citados acima, dentro dos anos de 2004 e 2005. “ Tomamos um susto com esta revelação hoje, não por não sabermos disso, mas sim por termos falado nesta a 6 anos atrás. E onde se teve um aviso de tudo isso em 2008.


Outro dado importante revelado por um dos membros do nosso conselho é que segundo alguns senhores da educação, diretamente relacionados a FNE, Os mesmos não sabem se haverá escolas e se será para todos nos anos que se avizinham.

Questão inserida pelos participantes do conselho boêmio. Os professores, formadores, educadores, gestores da educação, tem plano pedagógico hoje para esta realidade com seus alunos? Os formadores de formadores de educadores e vice-versa estão preparados e com metodologias especificas para tal? Se cobramos clareza e verdade da situação real aos senhores do estado para conosco cidadãos, o que será dito ao meu filho na sala de aula a respeito disto? Será melhor fechar os olhos e os ouvidos dele assim como também os de outros centenas? Ainda mais quando percebo que educação não esta dentro das estatísticas do plano de orçamento para 2012 num conceito geral, tanto pública, privada, quanto público-privada. “Parcerias que convém”.

Isso sem falar na saúde dos portugueses que segundo estimativas a crise econômica vai acabar por reflectir-se no nível de saúde da população, fruto das privações a que o período de contenção pode obrigar. E que pelo plano de orçamento para 2012 isso vai bem mais longe do que imagina-se.
A promoção da saúde pública é, essencialmente, a prevenção. Ora, apenas 3% dos orçamentos europeus de saúde são dedicados à prevenção. "É muito pouco, os governos não investem porque a prevenção não tem resultados imediatos",

Recordo porém de uma nota que escrevi sobre desperdício do estado na saúde:
Num ano negro para a despesa do Estado com remédios, 40% é atribuída à fraude.
Do total das despesas do Estado com a comparticipação de medicamentos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2010, 40% é potencial fraude, conclui uma auditoria da Inspecção Geral das Finanças (IGF) ao sistema de prescrição e conferência de facturação de medicamentos do SNS.
A IGF já tinha alertado em relatórios anteriores para a fraude no sector dos medicamentos, o motivou, aliás, participações da IGF ao Ministério Público. Os valores agora apurados referem-se apenas a uma amostra de três milhões de euros, dos quais 1,2 milhões são identificados como irregulares.


Surge porém dentro da conversa, a questão da pobreza urbana. Tal como se fosse uma nova geração inserida no contexto atual e no que virar a existir, pois esta já coexiste.

(…) O mais característico do urbanismo,como é entendido actualmente, não é, todavia, a concentração
geográfica, nem o número elevado de pessoas que vão viver em cada núcleo, mas a possibilidade enorme de relações e comunicações entre as pessoas duma determinada área.”
(Gameiro)

Ou seja; a cidade começa a ser o modo de vida preferido para as “Sociedades “. O significado social do urbanismo começa a ser muito plural, principiando uma espécie de mentalidade colectiva da qual as pessoas se identificam. Como tal, a urbe vai ser, cada vez mais, um espaço muito instável, frágil e violento, de tensões sociais, tornando-se portanto, num espaço de disputa social.
Segundo o mesmo raciocínio, percebo desde logo que vão surgindo diversas patologias de todo este fenómeno. Destacam-se entre elas o paupérrimo urbano e a delinquência associada ao crime, à prática de roubo, ao saque, à exclusão do trabalho, etc.

Isso é muito grave. Eu acho que as pessoas precisam pensar mais de forma coletiva.
“Tem uma série de valores a serem preservados: a solidariedade, o respeito pelo outro, a tolerância àquilo que é humano”.
Nós temos que parar e pensar. Pensar profundamente, por mais que isso seja difícil, provoque sofrimento, provoque angústia, e que a curto e médio prazo nós não tenhamos nenhuma resposta. Mas é fundamental parar e refletir sobre isso.
“Isso é o nosso poder, para o bem e para o mal, é o nosso poder.”
Contudo, peço mais um café dando seguimento a resenha que prossegue em prosa e poesia.
Chegando ao desfecho com a “Indiferença Social” De cara levanto antes da abordagem do tema, as questões: 
O que é ética? Por que ela é importante na vida em sociedade? Qual a relação entre ética e indiferença? Qual a relação entre ética e moral-cívica? Sendo moral um conjunto de regras, válidas para todo mundo, que determinam nossa conduta em sociedade: como devemos agir para não ferir o direito do outro e respeitar o bem comum, como agir diante dos diferentes desafios morais e cívicos? É daí que nasce a ética.


“Uma atitude ética é um estado de atenção com a vida”,

Uma conduta ética é antes de tudo uma tomada de posição. Uma atitude. Por isso, nada mais antiético do que a indiferença. Estar indiferente é abandonar toda tentativa de interferir nas coisas, de mudar - o que acaba tornando a violência, a corrupção, o desrespeito, um hábito. A indiferença é a banalização do mal.
A cultura de indiferença com a pobreza, em particular, é ao mesmo tempo estruturada e estruturante. Estruturada, pois esta indiferença tem manifestações já estabelecidas e consolidadas que se manifestam por meio de expressões cotidianas de banalização com a vida humana e o descaso com sofrimento produzido pelo agravamento da vulnerabilidade social. Estruturante, pois essa cultura da indiferença é afirmada e reafirmada continuamente por meio de diversos processos de socialização em diferentes espaços sociais, por meio de práticas sociais, que expressam comportamentos absorvidos como normais e naturais.
Sendo a pobreza um fenômeno social ela é a "síntese de múltiplas determinações". Portanto, é consequência direta do processo de exploração e expropriação do processo de produção econômica, em que o aumento da pobreza passa a ter significado explicativo na medida em que se desmonta a funcionalidade do sistema econômico que a gera. Não obstante, a pobreza como fenômeno social inquieta de diversas maneiras, seja porque ela evidencia o sistema econômico como fonte de desigualdade ou pelo fato de tornar-se um perigo constante frente a tênue ordem estabelecida.

“Se alguém é exposto demasiadamente à violência, como acontece hoje, banaliza a experiência da violência.
Então, nós vivemos num mundo extremamente banalizado”,
A banalização leva à indiferença. E o que a indiferença faz é desconsiderar e desqualificar o outro. Uma pessoa ignorada é como um objeto, sem vida, sem importância.

 “Quantas vezes passamos por uma criança no chão, dormindo, e sequer paramos para olhar para ela? Ao contrário. Tratamos de virar o rosto

Alguns psicanalistas e filósofos falam de três tipos de indiferença na nossa sociedade. O primeiro é o das classes dirigentes e das elites em relação aos pobres, que são vistos como "coisas", não como pessoas.
Quem não foi reconhecido como cidadão também passa a não reconhecer o valor do outro.
A explosão da violência urbana é o resultado do segundo tipo de indiferença: a dos excluídos em relação às elites.

A vida dos privilegiados deixa de ser vista como algo importante por aqueles que estão à margem da sociedade. E assim, pode-se matar para conseguir um brinco, por exemplo.

O terceiro tipo de indiferença apontada por Jurandir Freire Costa é o das elites em relação a elas mesmas. Enquanto o caos toma conta das cidades, multiplica-se o consumo de tranquilizantes, antidepressivos e drogas, como o álcool.

“Por exemplo, se alguém se sente um pouco mais gordo, se falta desejo pelo companheiro ou pela companheira, se alguém perdeu uma pessoa querida e está triste, rapidamente é medicado. A pílula vai resolver o seu problema. E com isso, se plastifica o afeto das pessoas”.

Diante de uma sociedade que parece desabar, a única coisa a fazer é salvar a si mesmo. Na falta de um projeto coletivo, a busca pelo sucesso individual, pelo bem-estar e realização pessoal, se torna cada vez mais importante. Da mesma forma, o horror ao fracasso.

O que choca hoje não é tanto a quantidade de crimes e escândalos políticos que vemos todos os dias nos jornais, mas a absoluta indiferença com que reagimos a tudo isso.

Talvez este seja o sinal de um desejo de destruir o que não temos coragem de transformar.

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