O
psicanalista e filósofo Jurandir Freire Costa fala de três tipos de indiferença
na nossa sociedade. O primeiro é o das classes dirigentes e das elites em
relação aos pobres, que são vistos como "coisas", não como pessoas.
Quem não foi reconhecido como cidadão também passa a não reconhecer o valor do
outro. A explosão da violência urbana é o resultado do segundo tipo de
indiferença: a dos excluídos em relação às elites.
A vida dos
privilegiados deixa de ser vista como algo importante por aqueles que estão à
margem da sociedade. E assim, pode-se matar para conseguir um brinco, por
exemplo.
O terceiro
tipo de indiferença apontada por Jurandir Freire Costa é o das elites em
relação a elas mesmas. Enquanto o caos toma conta das cidades, multiplica-se o
consumo de tranquilizantes, antidepressivos e drogas, como o álcool.
“Por
exemplo, se alguém se sente um pouco mais gordo, se falta desejo pelo
companheiro ou pela companheira, se alguém perdeu uma pessoa querida e está
triste, rapidamente é medicado. A pílula vai resolver o seu problema. E com
isso, se plastifica o afeto das pessoas”.
Ou seja,
diante de uma sociedade que parece desabar, a única coisa a fazer é salvar a si
mesmo. Na falta de um projeto coletivo, a busca pelo sucesso individual, pelo
bem-estar e realização pessoal, se torna cada vez mais importante. Da mesma
forma, o horror ao fracasso.
O que choca
hoje não é tanto a quantidade de crimes e escândalos políticos que vemos todos
os dias nos jornais, mas a absoluta indiferença com que reagimos a tudo isso.