Há um jogo
de forças dentro de cada um de nós que dominamos ou somos dominados por elas. É
daí que proliferam os conceitos patológicos na busca intensa da razão em dar
nomes às diferentes intensidades e modos de ser dessas forças.
Carl Gustav
Jung (1875-1961) apropriando-se da teoria de Platão (nunca fui condenado pelo
que eu fiz) denominou essas forças de arquétipos e propôs uma saída dessa luta
terrível dos opostos. Para isso se apropriou também do conceito de símbolo
tratado pelo teólogo, filósofo e místico Nicolau de Cusa (1401-1464) indicando
a possibilidade da união dos opostos. A sua psicologia então, torna-se uma
psicologia simbólica, no sentido de ser justamente aquela que propõe o resgate
do sentido e da despotencialização do instinto pelo reconhecimento do
arquétipo. Em outras palavras, e nisso Sade é um mestre: Justine é uma jovem
que, sendo raptada, violentada, torturada e degradada, representa a inocência
da alma humana constrita a conhecer a força escura da sombra a ser percebida e
assimilada quando possível. Criança, religião, família, inocência, pureza tudo
isso à mercê do libertino e da corrupção.
Há um lado
escuro do Eros (enquanto pornéia, pois o Eros tem outras dimensões) que
destrói, corrompe e mata. Se encontrarmos o símbolo, diz Jung, podemos escolher
não atuar sobre o mundo externo, porque aquilo que se quer destruir, corromper
e matar é o modo de ser das próprias forças, transformando-as. Dizer isso é
dizer que o pedófilo, se buscar a tomada de consciência de sua ação pode
descobrir que é dentro dele que está a possibilidade de transformação do desejo
e da compulsão para esta ação que o leva até a criança. Não quero fazer o mal
diz são Paulo. Mas faço!
A moral de
acordo com Nietzsche (não o Zaratustra) é constituída a partir da repressão e
contenção dos instintos humanos o que não significa que possa ser experienciada
por todos os homens uma vez que uma moral profunda traz consigo uma tremenda
exigência que dá à vida verticalidade, sacralidade, significado e valor. Que
tipo de força interna de caráter pode um homem que não consegue dizer não a um
prazer ou a uma fantasia de prazer? Poderão os escravos dizer não para as
cebolas do Egito em prol de uma terra prometida que se encontra para além dos
desertos?
Nem todos
conseguirão se libertar. É preciso que haja um ego capaz de lidar com as
forças, assim como, é preciso saber de que modo lidar com essas forças. É
preciso acima de tudo, a consciência de que a distância entre a fantasia e a
ação é muito pequena e frágil. Mais que isso, é preciso que se saiba que todo
vício é compulsivo. É autônomo e age por si mesmo. Fascina, para bem e/ou para
o mal.
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