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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Arquétipos dos Opostos (O lado escuro de Eros)


Há um jogo de forças dentro de cada um de nós que dominamos ou somos dominados por elas. É daí que proliferam os conceitos patológicos na busca intensa da razão em dar nomes às diferentes intensidades e modos de ser dessas forças.

Carl Gustav Jung (1875-1961) apropriando-se da teoria de Platão (nunca fui condenado pelo que eu fiz) denominou essas forças de arquétipos e propôs uma saída dessa luta terrível dos opostos. Para isso se apropriou também do conceito de símbolo tratado pelo teólogo, filósofo e místico Nicolau de Cusa (1401-1464) indicando a possibilidade da união dos opostos. A sua psicologia então, torna-se uma psicologia simbólica, no sentido de ser justamente aquela que propõe o resgate do sentido e da despotencialização do instinto pelo reconhecimento do arquétipo. Em outras palavras, e nisso Sade é um mestre: Justine é uma jovem que, sendo raptada, violentada, torturada e degradada, representa a inocência da alma humana constrita a conhecer a força escura da sombra a ser percebida e assimilada quando possível. Criança, religião, família, inocência, pureza tudo isso à mercê do libertino e da corrupção.

Há um lado escuro do Eros (enquanto pornéia, pois o Eros tem outras dimensões) que destrói, corrompe e mata. Se encontrarmos o símbolo, diz Jung, podemos escolher não atuar sobre o mundo externo, porque aquilo que se quer destruir, corromper e matar é o modo de ser das próprias forças, transformando-as. Dizer isso é dizer que o pedófilo, se buscar a tomada de consciência de sua ação pode descobrir que é dentro dele que está a possibilidade de transformação do desejo e da compulsão para esta ação que o leva até a criança. Não quero fazer o mal diz são Paulo. Mas faço!

A moral de acordo com Nietzsche (não o Zaratustra) é constituída a partir da repressão e contenção dos instintos humanos o que não significa que possa ser experienciada por todos os homens uma vez que uma moral profunda traz consigo uma tremenda exigência que dá à vida verticalidade, sacralidade, significado e valor. Que tipo de força interna de caráter pode um homem que não consegue dizer não a um prazer ou a uma fantasia de prazer? Poderão os escravos dizer não para as cebolas do Egito em prol de uma terra prometida que se encontra para além dos desertos?

Nem todos conseguirão se libertar. É preciso que haja um ego capaz de lidar com as forças, assim como, é preciso saber de que modo lidar com essas forças. É preciso acima de tudo, a consciência de que a distância entre a fantasia e a ação é muito pequena e frágil. Mais que isso, é preciso que se saiba que todo vício é compulsivo. É autônomo e age por si mesmo. Fascina, para bem e/ou para o mal.

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