O Sol e seu fogo são vibrações fecundas que despertam a
vida em todos os âmbitos do planeta. Por sua vez, a água, o elemento feminino
terrestre, a grande mãe ou vaca nutridora, é a base verdadeira da vida,
simboliza em todas as teogonias (Genealogia dos Deuses) com mil nomes lunares: Io,
Maya, Ísis, Diana, Lucina, Ataecina, Calquihuitl, e outros mais que se podem
verificar em De Gentes del Outro Mudo.
Mas a água, o elemento fluido sustentador da vida, apresentasse-nos
na Terra sob dois aspectos contrapostos, para melhor ou para pior, assim
definidos: o dinâmico, de suas correntes; e o estático, de sua sempre aparente
paralisação.
Digo aparente porque a água nunca deixa de ser ativa,
mesmo quando se nos afigura em fingida calma na sua fonte, quer seja um lago,
quer seja um mar sempre tranquilo no fundo, muito emborra as borrascas da
superfície e as suas poderosas correntes.
Firmemo-nos, pois, neste aspecto enganoso de lacustre
calma, para inferirmos que, desde logo, o conceito verdadeiro de lago é filosoficamente
suscetível de ampliação curiosa e instrutiva.
Com efeito. Temos aí esses colossos fluviais que chamam
Ienissei e Ganges, na Ásia; Volga e Danúbio, na Europa; Niger, Congo e Nilo, na
Africa; e Mississippi e Amazonas, na America. E suas fontes, desde as mais
modestas, alcandoram-se não raro, em altura inacessível e nevada; porém, destas
se pode passar, por uma gradação imperceptível, até maior dos mares, que é o
oceano Pacífico, mediante o conceito típico de lago, conceito aliás estático e
contraposto ao dinâmico de rio.
Naquele, as águas “dormem”; no segundo, deslizam, ativas.
No primeiro, invadem extensões maiores ou menores de
terra. Tendem constantemente para a forma circular em sua superfície e para
forma hemisférica em seu fundo, com vistas à conhecida lei de máximos que fazem
do círculo a maior figura isoperímetra, e das esfera maior volume entre os
sólidos de igual superfície.
Já o rio, por sua vez, tem a terra como a querer
cortar-lhe a arrancada irresistível, para imobilizá-lo como um lago.
Mas logra saltar-lhe as barreiras, virilmente. Propende
para a linha reta que é o mínimo das distâncias. Resvala e corre até níveis
inferiores; e, se tolhido na marcha, vê-se obrigado a formar lagos que detêm ou
a minoram, acabando sempre, em caso favorável, por fundir-se e perder-se nesse “lago
dos lagos”, que é o mar ...
Assim, as águas da superfície da terra nos oferecem a
mais admirável alternativa de paralisação e de marcha, de inércia e movimento,
de ecocomia e de trabalho, de pralaya e de manuântara, de aparente morte e de
vida aparente. E torno a dizer, aparente, porque o lugar onde as águas parecem
mortas ou estancadas é ali que eles possuem a mais prodigiosa vida, por uma lei
de correlação de força.
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