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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Lago do lagos

    O Sol e seu fogo são vibrações fecundas que despertam a vida em todos os âmbitos do planeta. Por sua vez, a água, o elemento feminino terrestre, a grande mãe ou vaca nutridora, é a base verdadeira da vida, simboliza em todas as teogonias (Genealogia dos Deuses) com mil nomes lunares: Io, Maya, Ísis, Diana, Lucina, Ataecina, Calquihuitl, e outros mais que se podem verificar em De Gentes del Outro Mudo.



   Mas a água, o elemento fluido sustentador da vida, apresentasse-nos na Terra sob dois aspectos contrapostos, para melhor ou para pior, assim definidos: o dinâmico, de suas correntes; e o estático, de sua sempre aparente paralisação.
Digo aparente porque a água nunca deixa de ser ativa, mesmo quando se nos afigura em fingida calma na sua fonte, quer seja um lago, quer seja um mar sempre tranquilo no fundo, muito emborra as borrascas da superfície e as suas poderosas correntes.

Firmemo-nos, pois, neste aspecto enganoso de lacustre calma, para inferirmos que, desde logo, o conceito verdadeiro de lago é filosoficamente suscetível de ampliação curiosa e instrutiva.

   Com efeito. Temos aí esses colossos fluviais que chamam Ienissei e Ganges, na Ásia; Volga e Danúbio, na Europa; Niger, Congo e Nilo, na Africa; e Mississippi e Amazonas, na America. E suas fontes, desde as mais modestas, alcandoram-se não raro, em altura inacessível e nevada; porém, destas se pode passar, por uma gradação imperceptível, até maior dos mares, que é o oceano Pacífico, mediante o conceito típico de lago, conceito aliás estático e contraposto ao dinâmico de rio.




Naquele, as águas “dormem”; no segundo, deslizam, ativas.

No primeiro, invadem extensões maiores ou menores de terra. Tendem constantemente para a forma circular em sua superfície e para forma hemisférica em seu fundo, com vistas à conhecida lei de máximos que fazem do círculo a maior figura isoperímetra, e das esfera maior volume entre os sólidos de igual superfície.

Já o rio, por sua vez, tem a terra como a querer cortar-lhe a arrancada irresistível, para imobilizá-lo como um lago.
Mas logra saltar-lhe as barreiras, virilmente. Propende para a linha reta que é o mínimo das distâncias. Resvala e corre até níveis inferiores; e, se tolhido na marcha, vê-se obrigado a formar lagos que detêm ou a minoram, acabando sempre, em caso favorável, por fundir-se e perder-se nesse “lago dos lagos”, que é o mar ...


   Assim, as águas da superfície da terra nos oferecem a mais admirável alternativa de paralisação e de marcha, de inércia e movimento, de ecocomia e de trabalho, de pralaya e de manuântara, de aparente morte e de vida aparente. E torno a dizer, aparente, porque o lugar onde as águas parecem mortas ou estancadas é ali que eles possuem a mais prodigiosa vida, por uma lei de correlação de força.

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